Em São Luís do Maranhão, no final do século XIX, quando os bumba-meu-boi ainda se misturavam ao carnaval, os brincantes da rua do Gavião precisavam ensaiar. Mas a elite, incomodada por aquela manifestação popular, tão barulhenta, cheia de algazarra, bebidas e sem-vergonhice, já havia pressionado os poderes públicos para exigirem documentos para os ensaios, além de impor limites geográficos à brincadeira, como se fosse um outro país em guerra.

Assim, no final do mês de janeiro de 1890, os brincantes eufóricos redigiram um requerimento ao Chefe de Policia, pedindo autorização para os ensaios. Desejavam humildemente uma licença para “Fazer dançar pelas ruas desta cidade durante os dias de carnaval a brincadeira Bumba-meu-boi e prometendo, como sempre nos anos anteriores, guardar a melhor ordem possível, de maneira a evitar qualquer barulho por menor que seja”

Foi a primeira vez que se ouviu falar de um boi sem matraca, miolo, zabumba, orquestras, maracás, apitos e cantorias. Era o sotaque dos silêncios, e que aos longo do tempo, foi driblando os preconceitos, aproximando o rural e urbano, enganando a polícia e a elite. Até a serpente acordou, e sorrindo daquele requerimento, sacudiu toda a ilha, e só não perceberam, porque os batalhões já estavam ensaiando.

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