O OFÍCIO
– Eu tive um sonho. Coisa mais sem pé, nem cabeça. São João mandando que eu fizesse um boi. Mas logo eu, ainda dentro da meninice, que até para acordar era preciso ser chamado.
Em poucas semanas, apareceu um caboclo do povoado Jacundá em Mirinzal, batendo na porta da nossa casa. Coisa sem explicação! Chegou, se abanou com o chapéu e perguntou se eu sabia fazer um carcaça para o boi dele.- Pode deixar que ele dá conta. O menino nasceu com a cabeça boa. Cheia das sabenças que não se explica. Os olhos dele tem memória, né como os nossos que só vêm – Disse o meu pai.
Depois de um tempo perdi as contas de quantos fiz. Gente de tudo que é lugar vem aqui. Envelheci neste ofício, que deu sacrifício para aprender. Nunca entendi quem me pôs este dom. Se São João, o caboclo de Mirinzal ou o meu pai. Talvez tenham sido os três, todos sem juízo.