ENTRE A BAIXADA E A ILHA
O Boi de Viana andava pela ilha desde a fundação na década de 40, agregando cantadores e participantes, migrantes da Baixada. Tão inusitado, que ninguém sabia ainda classifica-lo num sotaque. Quando chegavam os ensaios, toda a ilha arregalava os olhos e ouvidos, para ouvir aquelas cantigas mágicas, vindas lá do outro lado, por trás das ondas grandes do Boqueirão.
Numa noite de ensaios, Quintino Viveiros participava da cantoria, como convidado, quando Apolônio Melônio se levantou de onde estava. Sem ter tocado em bebida alguma, sentiu-se bêbado! O juizo balançou, feito bandeirinha açoitada pelo vento, e o homem se pôs a cantar. Os brincantes e cantadores, boquiabertos e assustados, não compreendiam o que estava acontecendo, pois aquilo era imperdoável: um cantador cortar a toada da outro.
Apolônio continuava em cantoria, até que lhe perguntaram: O que foi homem, tu tá bêbado? Só então, ele despertou daquilo que nunca soube explicar. Estava num lugar sem nome, entre a Baixada e a ilha, suspenso entre o mar e o continente, ou na fronteira que aproxima homens e cazumbas. Envergonhado, silenciou, e nessa mesma noite saiu do grupo, para nunca mais voltar.